Em pleno mês de comemoração à Consciência Negra, um presente a todos: a poesia da Professora Lucy

Com Ciência Negra
(Luci Teixeira Molina)

Eu vi gente pelas ruas,
Crianças, mulheres nuas...
Eu vi homens maltrapilhos
Indigentes, farroupilhos.
Vi uma gente sem nada,
Que perdeu até os filhos.
Homens negros como a noite,
Navegaram sob açoite
Mas agora estão aqui,
Infeliz mercadoria...
E os aguarda com sorte
A senzala por moradia.
São famílias separadas
Pobres almas desgraçadas.
A branca mão que os trouxe,
Esperou desde o começo,
Só para estender-se agora
E receber melhor preço.
O homem negro tem dono,
Não se queixe de abandono
E nem reclame da vida!
Por cada dia na lida,
Se tem força pro trabalho
Terá restos de comida.
Já muito tempo é passado
E o que eu vejo agora?
Muita gente pelas ruas,
Criança, velho, senhora...
Homens negros como a noite
E outros nem tanto assim...
Bêbados de alegria
Passam diante de mim.
Eu já não ouço gemido
Nem o estalar do açoite;
Apenas o repicar
Do batuque nessa noite!
Vejo crianças sorrindo
E lindas mulheres nuas,
Enfeitando a passarela
Brilhando mais que a lua!
E o homem negro agora
Já não carrega correntes,
Só arrasta pela rua,
Fantasia com enfeites.
Tem no lugar dos ferrolhos,
Plumas e balangandãs,
Em vez do som da chibata
Escuta o som dos tantãs...
Vestido com muito brilho,
Luxo, pedras e brocados...
Extravasa alegria.
Ri por seus antepassados.
Que não tiveram direito
De gozar a mesma sorte;
Só tiveram liberdade
Quando encontraram a morte.
A branca mão que comprava
E vendia seu destino,
Hoje o aplaude de pé
E com ele se iguala
Dizem até que ele é rei
E seu nome é Mestre Sala.